segunda-feira, 22 de março de 2010

“Muito além de Spielberg”

Em "Flores Partidas", Jim Jarmusch consegue delinear a sua singular posição no cinema norte-americano ao construir um filme andarilho completamente atípico. Retrata o olhar do cineasta por uma América povoada por seres de existências tomadas pelo imobilismo e que tem como protagonista um homem de meia-idade em crise.

Bill Murray como protagonista rende ótimos momentos de comédia e casa bem com o estilo de Jarmusch, que dispensa exageros. Don Johnston (personagem do Murray) enriqueceu com a informática e vive uma rotina pastosa em um típico e confortável subúrbio. Tem ojeriza a relações afetivas duradouras, perceptível logo em uma das primeiras seqüências, quando sua namorada dá um fim ao namoro com ele.

Para entender o filme, que por algumas horas da uma súbita vontade de dormir, (talvez por motivos pessoais da que vos escreve) precisamos perceber a temática de Jim Jarmusch. Tem como maior fonte de inspiração John Cassavetes, precursor do cinema independente americano, tal como o filme Shadows, filme gravado com uma câmera de filme 16 milímetros nas mãos, em uma Nova York noturna e com um orçamento de apenas US$ 40 mil.


Jarmusch segue a linha “pouco orçamento, grupo cooperativo de atores e sem financiamento de grandes estúdios” tem como sua primeira grande produção o filme “Stranger Than Paradise

” de 1982, que lhe valeu a aclamação da crítica pelo seu estilo próprio. E uma das suas mais idiossincráticas obras; “Sobre cafés e cigarros”, uma série de curtas metragens que iniciou em 1986 e foi-se lançar longa metragem em 2004 (falaremos mais amplamente em proximos posts).

Flores Partidas é comercial, diferentemente das obras antecedentes do cineasta, não por isso iremos esquecer da preciosidade que se é trabalhado os personagens. O tom cômico de Don prevalece em cenas, inclusive quando conta sobre a insólita correspondência ao seu vizinho Winston (Jeffrey Wright), africano que trabalha em variadas funções para alimentar na família, e que família. Uma carta rosa! É o ponto de partida de uma possível virada na vida de Don. Contando sobre suposta paternidade desconhecida de um rapaz de 19 anos, que está vindo em busca dele. Aconselhado por Winston, Don parte em uma “road trip” pelos EUA adentro para tentar encontrar respostas sobre seu rebento e, obter respostas definitivas sobre si mesmo.

Ao tentar localizar as possíveis mães, apesar de trazer à tona um território paralisado e quase de resina, o cineasta não migra para o caricatural e/ou alegórico. As ex-mulheres de Don (interpretadas por Sharon Stone, Jessica Lange, Frances Conroy e Tilda Swinton) não têm trajetórias empolgantes, não primam por uma inteligência brilhante, trabalham em funções irrisórias, mas formam uma galeria humana que mostra um mundo de possibilidades e impedimentos entre si e o Don.




Assim, a odisséia particular de Don e os momentos de encontro são focados por Jarmusch generosamente de forma afetiva, mas sem perder a ironia. Menos interessa a ele respostas e visões engessadas. Esteticamente visualmente falando, a câmera não exagera, tendo tomadas simples e sem efeitos, não traz cargas extras de sentimentalismo, pois pra isso a estória e as atuações se encarregam do drama.

A mais intrigante cena do filme convém no final. Onde a perspectiva do seu olhar se resume numa bela cena; quando a câmera gira 360 ao redor de Don. Suas crises e lacunas só podem ser resolvidas, a partir do momento que se sente em busca de algo antes nunca sentido falta e desenvolvido esperanças sentidas e eventualmente causadas, por ele mesmo.

Sobre o futuro filmico do Clube. Teremos dessa vez uma escolha que alegrará homens e mulheres. Um elenco de mulheres fantásticas e o Ryan Reynolds como ator principal. Não que seja repetitivo, mas será “Três vezes amor”. Uma comédia romântica que com certeza trará risos e lágrimas.

3 comentários:

Anônimo disse...

Bom filme. Muito diferente dos realmente independentes dele como "Dead Man" e "Permanent Vacation", mas mostra, como foi muito bem explicado, o imobilismo de uma vivência já sem motivos.

É um filme que aborda também algo recorrente na carreira dele, que é a figura do estrangeiro ou do próprio caminho por ele seguido.

Agora o próximo eu já vi também e quero muito ler o texto. Adoro "Três vezes amor". hahaha.

Jana disse...

para quem quizer baixao filme
3 vezes amor...
http://www.megaupload.com/?d=K6EEOZMM

link seguro ;)

Unknown disse...

òtimo filme... vi a um tempão no cinema... mas achei linda com final emocionante... não vou menti.. eu chorei.... hahaha